Normas básicas de disciplina
Nós, os pais, temos uma grande influência no comportamento dos nossos filhos, tanto nas condutas adequadas como nos comportamentos inadequados. Ensinar aos nossos filhos/as a respeitarem as normas e a obedecerem não é tarefa fácil, mas estamos em condições de influenciar positivamente e de incidir no seu correcto desenvolvimento, tanto psicoafectivo como social. Passamos a enumerar alguns comportamentos habituais nos adultos que dificultam a aprendizagem adequada das normas básicas de conduta.
Limites confusos e pouco claros Devemos explicar-lhes de forma muito clara aquilo que é permitido e aquilo que não é. As crianças devem saber o que delas se espera, há que deixar muito claro quais são os limites, já que são as mensagens que comunicam as nossas regras e definem o equilíbrio de poder e autoridade nas nossas relações.
Não cumprir as nossas advertências Devemos explicar previamente o que acontecerá se ultrapassarem esse limite e nos puserem à prova, isto é, que consequência haverá se transgredirem essa norma ou advertência. Evidentemente que temos que cumprir sempre as nossas advertências, senão a mensagem que transmitimos aos nossos filhos é que as nossas palavras à s vezes se cumprem e outras vezes não, pelo que a tendência da criança será sempre experimentar para ver o que acontece, ou seja, se estamos ou não a falar a sério.
Recompensar as condutas inadequadas As consequências que se aplicam depois de uma má conduta são as que determinam a probabilidade dessa conduta se repetir ou não no futuro. Isto é, se a consequência da conduta inadequada for de alguma forma uma recompensa para a criança, o mesmo comportamento tenderá a repetir-se. Exemplo: A Marta chora quando a mandam para a cama. Prometemos ler-lhe uma história se for dormir e ela pára de chorar. Resultado: a Marta chorará sempre até que alguém lhe conte uma história antes de ir para a cama.
Pedir o que nós não fazemos. Nós somos os modelos a imitar. Dificilmente poderemos pedir aos nossos filhos que não façam aquilo que nós fazemos, isto é, não podemos castigar o nosso filho mais velho dando-lhe uma palmada porque bateu ao mais pequeno, já que a nossa mensagem verbal e a nossa acção são contraditórias. Estamos a sancionar a nossa própria conduta.
Não reforçar as condutas adequadas à importante prestar muita atenção quando os nossos filhos obedecem à primeira ou seguem uma norma sem nos darem qualquer problema. Esse será o momento para lhes expressarmos a nossa aprovação. Quando prestamos atenção a um comportamento, seja ou não correcto, estamos a influenciar directamente na sua futura manifestação. Em consequência, se atendermos à s condutas correctas e ignorarmos as inadequadas, estaremos a influenciar directamente numa mudança de comportamento. A atenção por parte dos pais, as palavras de elogio e aprovação, as carícias ou os prémios em geral, dispensados pela prática de uma conduta correcta dos filhos, aumenta a probabilidade dessa conduta se repetir e de se aperfeiçoar.
Ser incoerentes As mensagens de actuação tanto do pai como da mãe devem ser as mesmas. Dificilmente conseguiremos resultados satisfatórios se não houver consenso entre ambos. A criança tenderá a prestar atenção à mensagem que mais lhe interesse consoante as suas preferências ou necessidades.
Personalizar a má conduta As crianças não se portam mal para nos “incomodárem”, mas sim por estarem a aprender aquilo que está bem e aquilo que está mal. São as nossas mensagens e as consequências que aplicaremos se não se cumprirem que os ensinam a melhorar a sua conduta. Se pensarmos que o seu comportamento se dirige directamente a nós, deixaremos de ser eficazes educativamente.
Conclusão, para ajudarmos os nossos filhos/as a entenderem que as normas são para cumprir e que em casa elas são impostas pelos pais, é necessário que essas normas sejam claras e concretas, adequadas à sua faixa etária; terão de saber o que lhes acontecerá se tentarem transgredi-las e deveremos sempre fazer cumprir as consequências. Para aumentar e/ou manter um comportamento adequado será necessário dar-lhes uma atenção especial cada vez que este se verifique e deixar de prestar atenção aos comportamentos inadequados que só exigem a nossa atenção pela negativa. Por outro lado, devemos pensar que somos o modelo para os nossos filhos e que estes aprendem directamente através da nossa conduta, seja ou não correcta.
O meu filho de 2 anos e meio morde e bate nos colegas do infantário. À tarde, quando vamos ao parque, faz a mesma coisa com as crianças do bairro. Como poderei resolver esta situação?
Nessa idade é frequente as crianças usarem a “agressão” física para com os colegas como recurso para solucionar os seus conflitos. Relativamente ao parque, é muito importante que lhe deixe bem claro antes de ir o que espera dele, isto é, que não deve bater nem morder aos amigos, e o que lhe acontecerá se o fizer, ou seja, que se irão embora do parque imediatamente. Se aplicar esta regra diariamente e, sobretudo, se a fizer cumprir, o seu filho perderá o privilégio da diversão no parque por causa de um mau comportamento que ele já saberá identificar. Ã possível que a frequência dos incidentes diminua e estará a ensinar-lhe aquilo que é aceitável e aquilo que não é. Por outro lado, seria interessante falar com a educadora do seu filho e averiguar a frequência do referido comportamento, quando se manifesta e como o solucionam.
A minha filha de 3 anos é muito eléctrica e irrequieta, nunca pára e é impossível brincar sossegada, comer sentada ou ouvir à primeira sem gritarr. Tenho que lhe repetir as coisas 5 ou 6 vezes e as últimas são sempre aos gritos.
à normal que uma criança aos 3 anos seja eléctrica e lhe custe prestar atenção. Nós, adultos, por vezes, temos de reflectir sobre quantas instruções ou “ordens” damos à s crianças durante o dia. Às vezes, torna-se-lhes incompatível a grande quantidade de coisas que têm de fazer durante o dia e as regras que têm de seguir com os seus verdadeiros desejos imediatos, como brincarem com determinado brinquedo que voltaram a descobrir ou entreterem-se com qualquer coisa que nesse momento acharam interessante ou atractiva. Para conseguir com que as nossas crianças sigam de forma mais eficaz as nossas advertências temos de estabelecer uma prioridade e definir aquelas em que vale a pena insistir e aquelas em que não, as que são importantes para a sua aprendizagem e desenvolvimento. Para nos assegurarmos de que ouviram as normas ou regras que consideramos importantes podemos perguntar-lhes se as entenderam e pedir-lhes que as repitam. Nesta idade têm de ser ordens claras, breves e relevantes. Caso haja uma negativa, será necessário aplicar um castigo ou uma consequência.
Quando não cedo à s vontades do Carlos, o meu filho de 7 anos, insulta-me e é verbalmente agressivo comigo. Nesse momento, diz-me que prefere estar com o pai porque lhe dá tudo o que ele pede.
O que o seu filho pretende é fazê-la sentir-se mal para que ceda aos seus pedidos, insinuando que se o fizer gostará muito mais de si. Deve ter bem claro aquilo que lhe permite e o que não lhe permite fazer e não confundir os sentimentos com as normas educativas. Tem que estar de acordo com o pai relativamente à s normas para que ele não vos manipule com os sentimentos. A partir daí aja em consequência.
Na opinião do meu pediatra, a minha filha de 4 anos deve ser capaz de se vestir sozinha de manhã, mas é muito lenta e todos os dias acabo por vesti-la eu para ser mais rápido e não haver uma guerra. Esta é a atitude correcta?
A sua filha sabe perfeitamente que não precisa de se esforçar para se vestir sozinha porque depois acaba por ajudá-la. Uma forma das crianças não serem competentes é fazer por elas mais do que o necessário. Para fomentar a sua responsabilidade e confiança devemos fazer menos, nunca mais. Muitas vezes, nem sequer nos damos conta de tudo o que fazemos e daquilo que eles podem fazer por si mesmos se lhes dermos a oportunidade de tentarem. De certeza que a sua filha consegue vestir-se e lavar-se de forma autónoma se lhe der o tempo necessário para o fazer e se você não intervier. Uma solução um pouco incómoda à priori mas eficaz a longo prazo é acordarem um pouco mais cedo, deixar-lhe a roupa e dizer-lhe para se vestir sozinha. Se ela vir que você não a ajuda, ao fim de algum tempo acabará por adquirir o hábito sem problemas. Dê-lhe tempo.
Tenho uma filha de 5 anos e um filho de 3. A menina é muito dócil e foi muito fácil criá-la. Por sua vez, o menino tem muita personalidade e faz birras de meia hora. O que poderei fazer para parar com as birras? Cada vez são piores.
As birras são comuns aos 3 anos de idade e correspondem normalmente a crianças de temperamento difícil. Uma boa maneira de irem desaparecendo de forma progressiva é desviar a nossa atenção de forma imediata cada vez que uma ocorra. Isto significa que quando o seu filho, perante uma recusa ou quando não gostar de alguma coisa, fizer uma birra, você e as pessoas que estiverem presentes nesse momento não devem prestar-lhe qualquer tipo de atenção. Ou seja, não deverão falar com ele, nem tocar-lhe, nem prometer-lhe nada se deixar de chorar, não deverão fazer nada. Há que esperar até lhe passar sem qualquer tipo de atenção, e assim sucessivamente. Se ele se der conta de que fazer birra não resulta, utilizará outros métodos para conseguir os seus propósitos.
Quando era pequena, a minha mãe dava-nos uma estalada de vez em quando e isso não me criou qualquer problema de maior. Agora que tenho filhos (um de 2 e um de 6), faço-o em ocasiões de muita rebeldia e tem funcionado. à uma boa opção?
O castigo físico é humilhante para os filhos: fere os seus sentimentos, deixa-os zangados e provoca resistência à cooperação. Caso consigam mudar uma conduta será porque sentirão medo e não por terem aprendido a comportar-se melhor ou a respeitar uma norma. Não é recomendável nem eficaz em nenhuma situação.
Se o meu filho de 5 anos não arruma os brinquedos retiro-lhos temporariamente para que aprenda a arruma-los. Às vezes esta táctica resulta, outras vezes não. Não entendo o que acontece, o que é que falha à s vezes.
Aplicar consequências faz parte de um processo de ensino e aprendizagem. O facto de ser necessário repetir as consequências “instrutivas” muitas vezes não significa que sejam ineficazes. Ã uma questão de tempo e de ser muito persistente. Se lhe retirar o brinquedo, não o faça por muito tempo já que aquilo que queremos é que relacione o facto de não ter o brinquedo com a perda do mesmo. Por conseguinte, se passar muito tempo, é provável que o seu filho não se lembre do que aconteceu com o objecto e que o seu esforço tenha sido em vão.
Lara, a nossa filha de 13 meses passa o dia a chorar. Habituou-se a pedir o que quer implorando com soluços. Explico-lhe que não deve fazê-lo mas continua igual. O que se deve fazer nestes casos?
A vossa filha aprendeu a pedir as coisas através da choradeira e não deixará de o fazer enquanto lhe prestarem atenção quando o faz. Ainda é pequena para reflexões educativas. Tendo em conta a sua idade é muito mais eficaz fazerem-se despercebidos aos seus pedidos com choros e prestar-lhe muitíssima atenção quando se dirigir a vocês de forma adequada. Se forem persistentes nesta norma de conduta, em pouco tempo abandonará o choro já que não conseguirá os seus objectivos.
Tenho 2 filhos de 5 e 3 anos. Estão sempre à bulha por qualquer motivo e é muito difícil brincarem em sossego sem que haja conflitos. Passo o dia a repetir-lhes vezes sem conta que devem dar-se bem e partilhar as coisas. Como poderei fazê-los entender?
O motivo pelo qual os seus filhos não colaboram é simples: não têm porque fazê-lo. Essa colaboração é opcional, não necessária. Não há nada que os torne responsáveis pela sua própria conduta já que você confiou na persuasão para fazer compreender a sua mensagem. Tem que estar disposta a apoiar as suas mensagens com consequências. Isto é, por exemplo, explicar-lhes que cada vez que se baterem terão que brincar separados, em quartos diferentes, já que por enquanto não estão preparados para brincarem juntos. Não é necessário chatear-se nem gritar. Sempre que surja algum conflito entre eles, separe-os fisicamente, repetindo o acto em cada ocasião. Ã uma boa forma de eles entenderem a sua responsabilidade e as consequências negativas do seu comportamento.
Clara, a minha filha única, de 4 anos, faz todos os dias uma birra antes de ir para a cama. Por enquanto, resolvemos a questão deixando-a ver televisão connosco no sofá até adormecer e depois levamo-la para a cama dela. Não podemos continuar assim.
à preciso saberem o motivo pelo qual ela não quer dormir sozinha. Aos 4 anos são frequentes os medos nocturnos associados à escuridão, como a presença de monstros no quarto ou ladrões que entram pelas janelas. Se esse for o caso, devem acalmá-la e acompanhá-la ao seu quarto, estabelecer um ritual antes de dormir, como ler uma história e deixar uma pequena luz acesa, assim como assegurá-la que vocês estão perto para lhe dar segurança. Pouco a pouco habituar-se-á a ir para a cama de forma autónoma. Se tiverem muitas dificuldades, deverão consultar um profissional.
A minha filha de 4 anos e meio consegue sempre que eu ceda à s suas exigências. Quando quer alguma coisa insiste até lhe fazerem a vontade e se não quiser fazer algo, recusa-se, não há maneira de a fazer mudar de ideias. Gostaria de saber como posso fazer com que me ouça.
Ainda que sem má intenção, é óbvio que está a ser extremamente permissiva com a sua filha e ela sabe disso. Se as crianças se apercebem de que as nossas mensagens e os nossos limites são pouco claros e não lhes interessa cumpri-los, tenderão a levar-nos ao limite até cedermos, as vezes que eles quiserem. Ã fundamental que para a sua filha a levar a sério, você defina primeiro claramente o que lhe permite e o que não lhe permite fazer. A partir daí, aja em consequência e não ceda.
Li que a técnica do tempo fora é eficaz para castigar. Podemos aplicá-la todos os dias ou só de vez em quando?
O tempo morto é um método educativo muito eficaz quando utilizado com uma finalidade, uma consequência lógica. Trava a má conduta e ensina as nossas regras mediante mensagens de actuação claras. O tempo morto ou time-out não é forçar as crianças à submissão, não é um método agressivo se aplicado correctamente. O time-out é afastar a criança no momento de uma transgressão, ou sempre que não obedeça, do lugar onde está e colocá-la noutro lugar da casa sem estimulação. Há que avisar previamente que se procederá com este método se não houver colaboração. O tempo será de 1 minuto aproximadamente por ano de vida, não é necessário mais. Pode ser posto em prática as vezes que forem necessárias sempre que puserem à prova os nossos limites, mantiverem uma conduta provocadora, desrespeitosa ou agressiva.
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